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quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

quinta-feira, 05 de Dezembro de 2014

Há uns anos atrás, juntas como sempre, ao entrar numa preparatória ouvimos «esta é feia, esta é mais ou menos». Rimo-nos, mas as crianças também mentem pensei. Afinal de contas,  eu é que era mais ou menos, ela já era bonita. Quando num tropeçar de conversa confessei que ele apenas uma vez me tinha dito o quanto eu era bonita, ela chocou. Era verdade, mas até que não me fazia muita confusão. Quando me olhei no espelho e percebi que embora feliz, o único 'defeito' do qual eu não conseguia fazer piada era aquele, comecei a sonhar - achando quase que impossível - que um dia, talvez o pudesse mudar, corrigir. Evitava conversas sobre esse assunto, que nem tão pouco tinham de ser sobre mim, cheguei a chorar e a culpar-me por desejar o que para muitos era extravagância com tantas pessoas piores do que eu por aí.
Os anos foram passando e ficou tudo meio adormecido, quase esquecido. A vida começou a correr melhor e por algum motivo voltei a pensar em mim. A ferros, pessoas que conto, por opção, pelos dedos de uma mão, perceberam o quanto seria isto importante para mim e incentivaram-me. Como quem lia o medo nos meus olhos, a minha hesitação nas atitudes, incentivaram-me. E eu que nem esperava tanto.
Rinoplastia. Só o nome assusta. Ainda me continua a custar admitir.

Escrevo a dois dias de uma nova consulta, de uma segunda opinião. Escrevo para ser um compromisso registado que não posso vacilar, que terei que me decidir e esperar um golpe de sorte. Até onde pude lutei, até dar o corpo ao manifesto. E se publicar, é porque cumpri e a desejar com todas as minhas forças que tenha corrido bem. Talvez depois já não fuja das conversas, onde possivelmente serei mesmo protagonista. Talvez depois passarei de um «mais ou menos» a um «bonita», aos meus olhos. Porque primeiro do que tudo, isto é tudo por mim.

C.

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