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terça-feira, 11 de agosto de 2015

E nada mais se acrescenta #65

"Uma vez eu conheci o homem mais bonito do mundo. (...) eu não tinha nenhuma dúvida. E ele veio falar comigo. E eu estava sentada no chão. E ali mesmo trocamos telefones e confissões e eu lembro que, apesar de estar com muito sono e cansaço e desesperança com a vida, fiquei tentando descobrir o que um homem daquele nível supremo de beleza tinha visto numa garota bem mediana que estava sentada no chão em um dos dias de menor brilho de sua carreira social.
Apliquei o teste do cotovelo. Apliquei o teste da sapiência média (você comenta que quando você olha pro abismo, o abismo olha pra você, e espera pra ver se ele tem alguma cultura de filosofia de almanaque). Apliquei o teste da bobeira erudita, uma merda qualquer que você lança no ar tipo “ai que vontade de chafurdar por essas lamas universais” e se o cara for minimamente interessante ele compra a besteira e devolve uma outra melhor ainda. Se ele for um tapado ele ri e fala algo idiota tipo “quero o mesmo que você está tomando” e daí você sabe que está, novamente, sozinha no mundo. Como sempre.
E ele, do alto de sua absurda e dolorosa beleza, foi tirando nota sete e meio em todos os requisitos. Devolveu uma besteira à altura, conhecia frases pessimistas perfeitas para uma noite estrelada e passou com certo louvor no teste do cotovelo.
No dia seguinte, já pela manhã, chegou uma mensagem de texto do homem mais bonito do mundo “quero te ver”. E foi então que resolvi pedir ajuda. Juntei a mulherada em casa. E todas nós, em silêncio, começamos a “googla-lo”. Até que uma foto bem grande, dele só de bermuda, sorrindo, ocupou a tela inteira e o coração de todas nós. Algumas suspiraram. Algumas tiveram ataque de riso nervoso. Uma ficou bem irritada e foi embora. Outras me olharam com a miopia bem apertada tentando descobrir que é que eu tinha pra merecer aquilo tudo. Ele era realmente o homem mais bonito do mundo. Todas concordaram. Não existe homem mais bonito do que esse e talvez nunca existirá. E, ao que tudo indica, trabalhador, com amigos do bem, amante da natureza e das crianças. A ficha.com estava limpíssima. “Mas você viu se ele..” Vi, vi, sim, ele passou no teste do cotovelo. Burro? Não. Então o quê hein? Pois é, amigas tão honestas, eu também não sei o que ele viu em mim. Tentaram uma última explicação, olhando para os meus pés. Outra explicou assim “ah, tem tanto casal que a gente vê e não se conforma”. Pois é.
Fiquei quarenta e sete dias com o homem mais bonito do mundo. Todo mundo olhava pra ele. Homens, mulheres, velhinhos, crianças, cachorros, pombas, formigas. Ele poderia ter qualquer uma das anjinhas da Victoria’s Secret (caso além de perfeito fosse trilhardário também…) mas preferia estar comigo. Ele definitivamente não tinha nenhum problema, aliás, muito pelo contrário. (...) Tudo ia muito bem até que um dia, na fila pra comprar uma bomba de chocolate, eu resolvi explodir aquela relação. Ele era tão bonito que me…que me…que…sei lá. Lembro que na hora pensei algo assim “ah, mas vá ser bonito assim lá na puta que o pariu”. E ele foi."
[Tati Bernardi]

Não lhe dou conversa para não ter que escrever algo assim.

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