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sábado, 28 de novembro de 2015

E nada mais se acrescenta #72

"O amor dos outros envergonha-nos sempre um bocado. Deixa-nos constrangidos. Já me senti assim e não sei se tenho saudades, mas sempre que estou com eles ficou a pensar que é aquilo de que preciso. A relação tem apenas alguns meses, mas vejo-os tão unidos, e sempre que o Tomás fala dela é com tanto entusiasmo que acredito que aquilo vai mesmo pegar. Há ali entendimento e desejo. E amor. Li não sei onde que o desejo é o prazer projectado no tempo. Sempre acreditei que o tempo e a rotina acabava por matar o prazer, mas se nem sempre for assim? Se um casal conseguir sustentar um nível de erotismo que mantenha a chama sempre acesa? O Tomás parece estar nesse caminho. Como a adora, nunca comentou nada íntimo. É evidente que nem o Alberto nem eu lhe perguntámos. Quando um homem leva uma mulher a sério, os amigos fazem o mesmo. Não há perguntas. Basta a forma como ele lhe agarra na cintura enquanto ela mexe a panela onde pôs a sopa a aquecer e ver os olhos dela a fecharem-se devagar, inclinando suavemente a cabeça para trás, a deixar-se ir. O amor é isto, não é? Paixão é tesão, e depois, se gostamos muito de muitas coisas na mesma mulher, então é amor."
[Os milagres acontecem devagar]

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